domingo, 20 de maio de 2012

Humanos são naturalmente pacíficos, afirma Frans de Waal


Bandeira da paz
Tese vai contra o filósofo inglês Thomas Hobbes, que defendia a guerra como algo natural ao homem
A guerra não está no feitio natural do ser humano, como defendia o filósofo inglês Thomas Hobbes no século XVII, um dos pais da política moderna e, mais recentemente, o psicólogo canadense Steven Pinker. O normal da nossa espécie é justamente o contrário: nós seríamos naturalmente pacíficos.
"Se realmente houvesse uma base genética para nossa participação em combates mortais, deveríamos praticá-los de bom grado", escreve Frans de Waal, holandês especialista em comportamento animal, psicologia e primatologia, em um artigo que será publicado nesta sexta-feira na revista Science.
Waal ataca uma das suposições de Pinker no livroThe Better Angels of Our Nature – Why Violence Has Declined (Editora Viking, 802 páginas, sem edição brasileira). Para o canadense, os antepassados viviam em guerra e a violência foi diminuindo lentamente com o amadurecimento do conhecimento humano, principalmente após o século XVI, com a "Era da Razão".
Waal contesta essa visão. "A ideia de que vivemos um passado violento é apenas uma suposição", disse em entrevista a Veja. O comportamento pacífico sempre esteve presente como motor das relações sociais de antigamente em primatas humanos e não humanos. "Os primatas nunca recorreram ao iluminismo para manter a violência sob controle."
O primatólogo apresenta sua defesa com base em dois argumentos. O primeiro diz respeito à falta de provas científicas para afirmar que os antepassados do homem viviam em um estado de guerra, além de diversos estudos que defendem justamente o contrário.
"Os caçadores-coletores comercializavam, realizavam casamentos com grupos distintos e permitiam a passagem de estranhos em seus territórios", escreve Waal. "Eram frequentemente pacíficos e algumas vezes violentos". Embora existam evidências de que assassinatos isolados ocorriam há centenas de milhares de anos, não há sinais de guerra antes da Revolução Agrícola, há 12.000 anos.
Arqueólogos nunca encontraram, por exemplo, cemitérios com um grande número de armas atravessando esqueletos antes da Revolução Agrícola. "Isso não quer dizer que a guerra não existia nessa época, mas significa que a suposição costumeira de que nossos ancestrais travaram longas guerras e passavam por períodos breves de paz carece de respaldo arqueológico", escreve de Waal.
Empatia — O segundo argumento de Waal diz respeito à comparação que frequentemente se faz entre o comportamento de chimpanzés e bonobos para justificar a naturalidade da violência humana. O primatólogo defende que, embora os chimpanzés tenham comportamento por vezes agressivo, os bonobos são marcados por uma convivência relativamente pacífica e altamente empática.
"Agressão fatal entre bonobos nunca foi observada e algumas vezes grupos diferentes se misturam em atividades sexuais ou lúdicas", argumenta. "Esses primatas podem ser os mais próximos do ancestral comum entre chimpanzés e humanos do que qualquer chimpanzé vivo."
Avanços científicos nos últimos 10 anos começaram a questionar a visão de que a vida animal, e consequentemente a natureza humana, é baseada na competição desenfreada que leva ao estado de guerra. Depois da descoberta de que chimpanzés se beijam e abraçam frequentemente depois de uma briga dentro do grupo, inúmeros estudos documentaram a "reconciliação" em primatas não humanos e outros animais.

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