quinta-feira, 24 de maio de 2012

Chef de cozinha ostenta porco morto em capa de livro



Por Lilian Regato Garrafa   (da Redação)
April Bloomfield, uma chef de cozinha inglesa, dona de restaurantes em Nova York, lançou em abril deste ano seu livro de receitas, denominado A girl and her pig (Uma menina e seu porco). O nome singelo que une palavras delicadas transmite uma inocência que poderia nomear um livrinho de histórias infantis. O uso do pronome possessivo ‘her’ faz imaginar que não se trata de um porquinho qualquer: é o porquinho da menina. Como se fora um animalzinho de companhia, um cãozinho.





Capa do livro "A girl and her pig". (Reprodução)
Ao olhar, de relance, a capa do livro, a ideia parece até se confirmar: uma moça de branco com um porquinho enlaçado ao pescoço. O título da obra se inscreve em letras finamente delineadas e frágeis. Mas… o ilusionismo se desfaz com um olhar mais atento: o porco que a moça carrega está morto, costurado e etiquetado. Não se trata de uma menina em um ‘branco pureza’, mas de alguém que matou (ou pagou para que alguém matasse) o animal que ali se ostenta sem vida. E o leve sorriso que se esboça no canto de seus lábios sugere uma insensibilidade impiedosa, superior ao direito à vida, autorizada por sua posição privilegiada no ‘topo da pirâmide’.
No entanto, a imagem de muito mau gosto continua a deturpar o real sentido do ato que ali está implícito: o animal costurado é mostrado de forma absolutamente natural, sem nenhuma gota de sangue (cuja cor aparece apenas nas letras do título), sem nenhuma expressão de sofrimento. Como se fosse de plástico, imune à violência que, sabemos, se pratica banalmente da forma mais cruel possível. A imagem que a cena tenta transmitir é isenta de qualquer resquício de dor, com a naturalidade peculiar a quem é indiferente ao sofrimento alheio.
Foto que ilustra receitas do livro "A girl and her pig". (Reprodução)
Os mesmos artifícios do velho marketing, agora com nova roupagem – o ‘branco-açougueiro’. Como nos anúncios de nuggets em que o próprio frango vende a si mesmo, em cenas bucólicas ou divertidas para atrair crianças e iludir o consumidor, mascarando de todas as formas a crueldade por trás do ato exploratório de comprar e comer animais, a capa do livro vende uma imagem ilusória colocando o animal coisificado, inerte, sem valor, a não ser o de incrementar os pratos para os paladares mais exigentes.
Estamos observando passivamente aberrações, vendidas como normais pelos interesses publicitários e econômicos, assim aprovadas pelo senso comum, e que têm tornado infinito o ciclo de confinamento, tortura e morte de seres sencientes que têm tanto direito à liberdade e à vida quanto qualquer ser humano.
fonte:anda



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