O instinto de policiar os membros de um grupo foi observado entre chimpanzés e outros primatas, como orangotangos e gorilas. A forma desses animais lidarem com o conflito pode ajudar a explicar a origem do comportamento nos seres humanos.
A intervenção de policiamento dos chimpanzés é diferente das outras, uma vez que o árbitro não apoia seus aliados nem pune os culpados, mas apenas se mantém neutro para interromper a briga. O objetivo principal é fazer com que o grupo retorne ao estado de paz que havia antes do conflito, o mais rápido possível.
Fazer o papel de policial, porém, é arriscado. Lidar com companheiros agressivos significa que a qualquer momento essa agressividade pode se voltar contra o mediador. A pergunta que os cientistas fazem é: porque, então, os primatas preferem se arriscar para interferir em um conflito? Para encontrar a resposta, foi realizado um estudo pela Universidade de Zurich em um jardim zoológico da Suécia. Um grupo de chimpanzés foi observado por 600 horas, durante dois anos. Ao mesmo tempo, os pesquisadores estudaram relatórios sobre esse comportamento em chimpanzés de três outros zoológicos.
Interações sociais como conflitos agressivos, toques amigáveis e comportamento policial foram observadas. Quando policiavam o grupo, eles reagiam de duas maneiras: ameaçavam os dois brigões ou corriam entre eles, para interromper a briga.
Os cientistas acham que policiar o grupo pode ajudar os membros mais poderosos a controlar seus rivais e se manterem dominantes. Outra explicação é que isso pode impedir que membros influentes abandonem o grupo. As hipóteses, porém, apresentam falhas. As fêmeas não costumam se importar com a hierarquia do grupo, portanto não teriam esse comportamento para se manterem dominantes. E elas são as que geralmente abandonam o grupo, não os machos. Apesar desses fatores, as fêmeas também policiam o grupo.
Os pesquisadores sugerem que o policiamento promove a estabilidade dos grupos, e assim a comunidade fica mais saudável. Assim, os chimpanzés preferem mediar uma briga para manter a atmosfera mais pacífica e segura para a comunidade.
O fato de ter uma “polícia” entre eles já é curioso, mas uma recente pesquisa, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, na Alemanha, descobriu que os chimpanzés também apresentam diferenças culturais.
“De muitas maneiras, os chimpanzés são muito semelhantes aos seres humanos”, disse o pesquisador Christophe Boesch. “Ao estudar as semelhanças com os nossos parentes vivos mais próximos em seu habitat natural na África, temos a oportunidade única de aprender mais sobre as raízes evolutivas da cultura, que é um dos principais elementos da nossa identidade”.
De 2008 a 2010, os pesquisadores estudaram 45 chimpanzés de três grupos diferentes no Parque Nacional Tai, na Costa do Marfim. Eles descobriram que os grupos tinham maneiras diferentes de quebrar as nozes que comiam.
As nozes são mais duras no começo na estação, e mais moles conforme o tempo passa. Para abri-las, os animais fabricam “quebra-nozes” com materiais disponíveis no ambiente.
Os três grupos vivem próximos, a cerca de quatro quilômetros, e fazem fronteira uns com os outros, até cruzando entre si, o que significa que não há muita diferença genética entre eles. No que se trata de uma forma prática de abrir e comer as nozes, eles deveriam se comportar de forma igual, mas não o fazem.
Por exemplo, um dos grupos utilizava principalmente quebra-nozes de pedra para extrair a carne de nozes, não importa se elas já estivessem moles. Já os outros dois grupos começavam usando ferramentas de madeira, que são mais fáceis de encontrar, para quebrar as nozes mais moles já mais tarde na temporada, usando ferramentas de pedra apenas para as nozes mais duras. Todas as três comunidades tinham uma preferência especial para o tamanho de ferramentas que usavam.
Ou seja, os grupos têm suas escolhas, assim como certo grupos de humanos usam certas gírias, gostam de certo estilo musical, etc. – escolhas culturais.
É simplesmente incrível o quanto os animais continuam surpreendendo a gente, nos lembrando dia após dia como também somos animais. [LiveScience I, LiveScience II]
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