Mais uma vez os vulneráveis gorilas das montanhas estão bem no meio do fogo cruzado entre rebeldes e exército do governo, na República Democrática do Congo. O exército congolês começou um pesado confronto contra os rebeldes perto do Parque Nacional de Virunga, onde vivem os gorilas, no domingo de manhã, com metralhadoras e morteiros. A luta intensa, iniciada na noite de quinta-feira, obrigou os guardas florestais a deixarem seus postos. Dois dos cinco postos permanecem sem qualquer proteção e os demais tendem a ser abandonados também.
São apenas 200 gorilas nessa região acostumados à presença humana, o que os coloca ainda mais em risco, pois, podem se aproximar dos rebeldes de forma inocente. Se um gorila líder for morto toda a família fica desprotegida e sem rumo. Boa parte da população de cidades nos arredores do Parque fugiu com a roupa do corpo e carregando baldes com poucos pertences pessoais. É um caos total e a imprensa brasileira não noticia nada. Parece que o Congo não existe.
Há lagumas semanas foram suspensas as visitas turísticas aos gorilas, chimpanzés e vulcões. Um aumento surpreendente do turismo nos últimos três anos demonstrou um sinal promissor de futura estabilidade na região. Mais de 5 mil pessoas visitaram o parque com os últimos gorilas das montanhas do mundo ajudando assim na sua preservação.
“Estamos profundamente preocupados com a segurança dos gorilas das montanhas que estão expostos aos perigos de fogo de artilharia, mas também devemos cuidar de nossa equipe que tem que ser evacuada da zona de combate. Assim que houver uma pausa na luta, vamos voltar para verificar os gorilas”, declarou o diretor-chefe de Virunga National Park, Emmanuel de Merode.
O grupo rebelde CNDP lutou contra o exército congolês em Masisi por duas semanas antes de passar pelo lado oeste do parque indo em direção ao setor Gorila Mikeno (onde vive a família dos primatas que leva o mesmo nome). Em 2007, nove gorilas de uma mesma família foram mortos chocando o mundo. Foi uma execução com tiros no peito e cabeça.
Em 2008, o Virunga National Park foi tomado por rebeldes leais ao general Laurent Nkunda que, em contato com ambientalistas, prometeu publicamente proteger os gorilas. Seu depoimento consta de um documentário exibido pelo Nat Geo e Animal Planet. Na ocasião ele disse que nenhum soldado dele, do governo ou de qualquer outro grupo colocaria as mãos nos gorilas.
Apesar da seqüência de conflitos, os esforços de conservação para os gorilas das montanhas foram coroados de êxito, com um aumento do número de mais de 20% desde 2003, uma das mais altas taxas para uma espécie criticamente ameaçada de extinção.
O Parque de Virunga conta com 275 guardas florestais que raramente recebem salário e vivem com grande dificuldade. Nos últimos 10 anos já morreram 150 guardas florestais. O parque é o lar também dos gorilas da planície, chimpanzés, elefantes e búfalos, entre outros animais selvagens. Foi decretado Patrimonio Mundial pela UNESCO em 1979. Mesmo assim, a caça ilegal e a destruição de habitats continuam a ser as principais ameaças à sobrevivência da vida selvagem.
O parque é gerido pelo Instituto Congolês para a Conservação da Natureza, o Institut pour la Conservation Congolais de la Natureza (ICCN).
Gorilas das montanhas estão criticamente em perigo, com cerca de 790 remanescentes no mundo, cerca de 480 na Área de Conservação dos Vulcões de Virunga (compartilhada por República Democrática do Congo, Ruanda e Uganda) e pouco mais de 300 na Floresta Impenetrável de Bwindi, Uganda. Os resultados de um censo recente realizado na primavera de 2010 mostram que o número de gorilas das montanhas que vivem na área tri-nacional de floresta de Virunga, aumentou 26,3% entre 2003 e 2010 – uma taxa média de crescimento de 3,7% ao ao ano.
Se não houver uma intervenção internacional não sobrará nenhum gorila no Parque Nacional de Virunga. Uma fêmea só tem bebês a cada cinco ou sete anos e é apenas um filhote por vez… como os humanos. A fase adulta só chega entre nove e doze anos de idade, o que compromete ainda mais a sobrevivência da espécie. Os gorilas também não copulam com parentes. As fêmeas jovens deixam a família de origem quando maduras e se encaixam em outros grupos.
Uma cena fantástica e rara foi documentada dois anos atrás e calcula-se que em virtude da necessidade que os gorilas estão sentindo em se unir.
Duas famílias se cruzaram na floresta e os silverbacks (líderes de cada grupo), ao invés de se confrontarem, como naturalmente aconteceria para demarcar o território, seguiram pela mata juntos, como que entendendo que o único e verdadeiro inimigo deles é o homem.
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