Caberá ao prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, sancionar ou não o projeto de lei que determina a vacinação em massa contra leishmaniose, da população canina estimada de 300 mil animais na cidade, incluindo os abandonados. Se aprovada, a medida representará um impacto de R$ 140,4 milhões aos cofres do município só no primeiro ano da campanha, considerando as três doses necessárias para a imunização – aplicadas num intervalo de 21 dias.
O projeto de lei, do vereador Sérgio Fernando Pinho Tavares (PV), tem o objetivo de evitar a propagação da doença entre humanos e reduzir o extermínio de animais doentes. No ano passado, a Prefeitura de Belo Horizonte registrou 93 casos de leishmaniose visceral em seres humanos. Treze pessoas morreram. Neste ano, até abril, foram quatro casos, com um óbito.
No segundo ano da campanha, o impacto da medida nos cofres municipais baixaria para R$ 46,8 milhões, pois a dose seria única. O valor de cada dose sai, em média, por R$ 156, valor superior à vacina contra catapora (R$ 130), que está fora do calendário nacional de imunização infantil. Além do alto custo da vacinação, pesa contra o projeto a falta de consenso sobre a eficácia da imunização contra a leishmaniose.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) se posicionou contra a iniciativa do vereador, o que já indicaria qual deverá ser a decisão de Lacerda. “Antes mesmo da questão do preço, hoje, não há na literatura científica que comprove a eficiência da vacinação em massa de cães como medida de saúde pública no controle da doença entre humanos”, afirmou o secretário-adjunto Fabiano Pimenta. Segundo ele, Belo Horizonte tem o mesmo entendimento do Ministério da Saúde. O órgão federal foi procurado, mas a assessoria não indicou uma fonte para falar sobre o assunto.
De acordo com o vereador Sérgio Fernando, a leishmaniose deve ser considerada um problema de saúde pública. O projeto de lei foi aprovado em segundo turno na Câmara e depende da redação final para ser encaminhado ao prefeito. “Já há aprovação orçamentária prevista nas rúbricas da saúde e de medidas sanitária. Caso seja necessária, elas podem ser suplementadas por outras verbas”.
De acordo com o vereador, uma alternativa à imunização em massa, proposta no projeto, é a distribuição de coleiras que têm em sua composição a substância deltametrina, que serve como repelente aos mosquitos transmissores.
Defensor do projeto, o veterinário e professor da PUC Minas, Vitor Márcio Ribeiro, afirma que as coleiras, que custam R$ 60, poderiam ser compradas mais baratas pelo poder público. Ribeiro entende que o controle da doença nos cães fará com que ela também seja controlada entre humanos.
Membro da Organização Não Governamental (ONG) Animais Urbanos, Eulàlia Jordá-Poblet defende a vacinação. “O custo humano e do animal é mais elevado que qualquer vacina”.
Pesquisa de controle em Igarapé
O veterinário e professor da Puc Minas Vitor Márcio Ribeiro informou que a população de baixa renda é a mais afetada pela leishmaniose. Com a intenção de descobrir formas eficazes de controle da doença, uma ação de controle está sendo realizado, há dois meses, em Igarapé, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Mais que a vacinação de cães, o projeto de extensão, realizado em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), visa a orientar a população.
“O trabalho tem que ser com ações de saúde, como vacinação e o controle da população de cães, mas também de educação das pessoas para dar bons resultados nos próximos meses”, ressaltou o especialista.
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