Quando o artista Fabiu Buena Onda chega à Rua Javari, por volta das 15h30m, o time do Juventus já faz seu aquecimento debaixo do sol de uma bela tarde de sábado de carnaval em São Paulo. Ele logo encontra o amigo Carlos Cipro. A dupla de torcedores está ansiosa para o jogo da equipe da Mooca contra o Grêmio Osasco, válido pela Série A-3 do Campeonato Paulista. De mochila nas costas, Fabiu saca uma faixa, um “trapo”, confeccionado por ele próprio: Juvegan, Juventinos Vegetarianos. Mais uma das boas histórias produzidas pela Javari.
– No começo utilizei esse nome, como está na faixa, mas hoje chamamos de Juventude Vegana – esclareceu Fabiu, logo em sua chegada.
O artista leva a postura do veganismo, um conceito mais amplo que o do vegetarianismo – baseado apenas na dieta sem consumo de alimentos de origem animal. O vegano procura abolir qualquer prática que explore animais, e prega a preservação da liberdade e integridade animal, o exercício da não violência, a busca por alternativas aos mais diversos produtos, o não consumismo, entre outras práticas.
A Juvegan não é exatamente uma torcida organizada. Longe disso. É uma ideia que Fabiu teve em novembro de 2007, quando o time disputava o jogo de volta da final da Copa Paulista contra o Linense, ali mesmo na Mooca. A equipe do interior paulista era patrocinada pelo frigorífico Bertin, um dos maiores exportadores de carne do país. O Juventus perdeu o jogo por 3 a 2, mas levou o título graças a um gol no minuto final da partida, aos 49 do segundo tempo, o que levou a Rua Javari ao êxtase. Em meio à alegria, o artista refletiu:
– Algo me incomodou muito na final da Copa Paulista. O patrocinador do Linense era um matadouro, e aquilo foi a gota d’água para mim. Foi um dia especial. Naquele dia surgiu essa ideia diferente de divulgar o veganismo, os direitos dos animais, a consideração com o animal. Você não utilizar o animal como produto, como objeto para seu benefício. E tem sido muito positivo desde então – afirmou Fabiu.
A mensagem foi sendo passada boca a boca, e meses depois o artista confeccionou a faixa que leva a todos os jogos, além de 95 camisas limitadas com a logomarca da Juvegan – nas versões grená e branca. Cada camisa recebeu uma etiqueta com um número, relativo a cada minuto daquela final contra o Linense. Os veganos sempre ficam atrás da mesma trave do gol daquele título, no Setor 2, tradicional área da Javari destinada aos grupos que cantam o jogo inteiro e penduram suas faixas nos alambrados.
A Juvegan não conta integrantes, mas já chegou a reunir entre dez e 15 adeptos em alguns jogos. Muita gente curiosa também procura o grupo durante as partidas para entender melhor a mensagem. No sábado de carnaval eram quatro, mas apenas dois deles atrás do gol: Fabiu e o advogado Carlos Cipro, especializado em direitos dos animais. Ambos aprenderam desde cedo a torcer pela equipe da Mooca e também a defender as outras espécies.
– Eu acabei entrando em contato com o Fabiu por conta do veganismo. Não sei dizer exatamente como começou, mas animais todos somos. Pela questão lógica, não existe nenhuma diferença relevante entre homens e outros animais, a ponto de a gente achar que os direitos humanos são necessários e o dos outros animais, não. Aí a decorrência disso: ou ninguém tem direito ou todos animais têm de ter – disse Carlos Cipro.
Durante os 90 minutos, a dupla torce, provoca o adversário, canta… E no intervalo, Fabiu dá uma pausa para conferir a principal iguaria da Rua Javari: o canole, doce típico feito de massa fina e recheado com creme. Apesar de a receita original levar ovos na massa, Seu Antônio, o vendedor que trabalha lá há décadas, garantiu aos veganos que não há nada de origem animal na receita. Por isso, o doce é saboreado com gosto.
– O canole é uma tradição da Javari, e não contém nada de origem animal. Mas isso não é uma imposição, é uma escolha que você faz. Não é poder ou não poder, é você não querer participar disso. Tentamos levar essa ideia para as outras pessoas para que elas pensem sobre o assunto – contou Fabiu.
O sábado de carnaval terminou perfeito para os Juveganos, que vibraram com a vitória suada do Juventus por 2 a 1 sobre o Grêmio Osasco, que colocou a equipe na briga por uma vaga entre os oito classificados para a próxima fase da A-3. O rival daquela tarde, coincidência ou não, também estampava a marca de uma gigante do setor de carnes e laticínios.
Com o apito final, a dupla comemora mais um dia feliz na Mooca. Mais um dia de torcida para o Juventus, mais um dia de mensagem transmitida para pessoas que querem conhecer melhor o veganismo.
– A Juvegan é mais uma diversão mesmo, não está escrito vegano na minha testa, mas as pessoas vêm e perguntam, é só uma porta de abertura para a gente poder transmitir essa mensagem – explicou Fabiu.
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Fonte: Globo Esporte
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