sábado, 25 de janeiro de 2014

Caroline Kennedy critica caça a golfinhos no Japão



Recebida com honras de princesa quando assumiu o cargo de embaixadora dos Estados Unidos no Japão, há dois meses, Caroline Kennedy irritou o governo japonês ao criticar a caça aos golfinhos – uma prática que acontece anualmente no vilarejo de Taiji, apesar da enxurrada de protestos internacionais. No Twitter, a embaixadora disse estar “profundamente preocupada com a desumanidade da matança de golfinhos”, acrescentando que o governo americano é contra a pesca. As autoridades japonesas não gostaram do comentário vindo de uma representante do maior aliado do Japão e defenderam tratar-se de uma antiga tradição.
” A pesca dos golfinhos é uma das grandes tradições do país e acontece de acordo com a lei. A espécie não está incluída no controle da Comissão Baleeira Internacional e é um assunto de responsabilidade de cada país” reagiu o chefe de Gabinete, Yoshide Suga.
Pescadores caçam golfinhos durante o processo de seleção em Taiji, no Japão AP (Foto: O Globo)
Pescadores caçam golfinhos durante o processo de seleção em Taiji, no Japão AP (Foto: O Globo)
Denunciado no documentário americano “The Cove – a baía da vergonha”, premiado com um Oscar em 2010, o massacre dos golfinhos pelos pescadores de Taiji, na província de Wakayama (sudeste), manchou ainda mais a imagem do Japão na área ambiental, já abalada pela insistência na caça às baleias. Os protestos de autoridades e ambientalistas, no entanto, não acabaram com a matança. Todos os anos centenas de golfinhos são encurralados numa enseada, que fica fechada ao público. Parte é morta para que sua carne seja vendida e outra é enviada a parques aquáticos em váriaspartes do mundo.
De acordo com o grupo Sea Shepherd, que lidera a campanha contra a caçada, esta semana 250 golfinhos foram capturados com redes, entre eles filhotes, e pelo menos 40 teriam sido mortos, transformando a enseada num mar de sangue. O prefeito da cidade, Kazutaka Sangen, alega que a pesca é essencial para a sobrevivência da população local e condenou a embaixadora americana. Segundo ele, suas críticas são um ataque à comunidade.
“Há pescadores em nossa comunidade e eles estão exercendo seu direito. Temos que protegernossos moradores” disse.
No Twitter, onde tem 70 mil seguidores, a única herdeira de John e Jacqueline Kennedy foi elogiada por seu comentário, postado no último dia 18, mas também recebeu críticas.
“A caça é uma tradição pesqueira que existe desde antes da fundação dos EUA. Não é desumano matar milhões de vacas e ovelhas para consumir sua carne?”, perguntou um internauta japonês.
Figura importante no Partido Democrata, com acesso direto ao presidente Barack Obama, CarolineKennedy nunca havia ocupado um cargo público. Embora não seja diplomata, sua nomeação como embaixadora foi vista pelo governo japonês como um sinal de fortalecimento das relações com Washington, devido ao peso do sobrenome Kennedy. Caroline já demonstrou, porém, que não aceitará em silêncio todas as manobras oficiais de Tóquio.
No fim do ano passado, quando o primeiro-ministro nacionalista Shinzo Abe visitou o Santuário de Yasukuni, o mais controverso templo do país por homenagear criminosos de guerra, aembaixadora americana divulgou um comunicado sem meias palavras. “Os Estados Unidos estão desapontados com a liderança japonesa, cuja ação irá exacerbar as tensões com os países vizinhos”, dizia o texto.
” Caroline Kennedy fez um ótimo trabalho ao chamar a atenção do público para o que ocorre em Taiji” disse a ambientalista Nanami Kurasawa, da organização japonesa Ikan, que combate a pesca de golfinhos e baleias no Japão. “Mas não tenho certeza de que suas palavras terão efeito. Não é fácil mudar a posição do país, principalmente agora, com o crescimento do nacionalismo. O público japonês deveria levantar sua voz contra a caça, mas conseguir isso sempre foi um desafio” lamentou.
Outro nome célebre, a artista plástica japonesa Yoko Ono, também se manifestou contra a pesca em Taiji e divulgou uma carta aberta aos pescadores da região, advertindo que a tradição “permitirá que grandes países como China, Índia e Rússia falem mal do Japão”.
“Sei que não é fácil, mas por favor pensem no futuro do Japão, cercado de tantas nações poderosas, que estão sempre buscando uma chance de diminuir o poder de nosso país. Em um momento politicamente sensível, a caçada fará com que as crianças do mundo odeiem os japoneses”, disse a viúva d o cantor John Lennon.  O embaixador britânico no Japão, Timothy Hitchens, também usou o Twitter para criticar o Japão.
Fonte: O Globo

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