O último levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (Snis), do Ministério das Cidades, mostrou que a média de consumo diário de água de cada brasileiro é de 150 litros, o que resulta em um consumo médio anual de 10,4 trilhões de litros no país. Desse total, pouco mais de 7 trilhões são destinados à agricultura, que acaba desperdiçando cerca de 3 trilhões de litros de água.
Tubulação
Perda também na rede de abastecimento
A agropecuária não pode ser apontada como única vilã quando o assunto é desperdício de água. Em média, metade do volume destinado à distribuição domiciliar é jogado ralo abaixo no Brasil. “A estimativa é que de cada 100 litros que saem para distribuição 50 são perdidos. É necessária uma reforma no sistema”, afirma o coordenador da The Nature Conservancy, Albano Araújo. Segundo dados da FAO, 10% da água utilizada no Brasil têm como destino o abastecimento residencial e 20% o setor industrial.
De acordo com Devanir dos Santos, da Agência Nacional de Águas, há municípios em que 70% da água que sai para distribuição não chegam ao destino. “Instalações antigas, adutor estourado e até ‘gatos’ na ligação da água contribuem para isso”, explica.
Até 2050
Alta na demanda por alimentos aumentará consumo de água
O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos, lançado neste mês, estima que o mundo necessite de 70% a mais de alimentos até 2050. Este aumento poderá refletir em um incremento de 19% na água utilizada pelo setor agrícola. Isso porque a previsão é de que a população mundial possa dobrar até metade do século.
Segundo o relatório, 86% da população dos países em desenvolvimento terão acesso garantido à água potável em diferentes regiões do mundo até 2015. Contudo, hoje, um bilhão de pessoas ainda não têm acesso. A Unesco destaca ainda a falta de saneamento básico, que não acompanha o crescimento das cidades e hoje não oferece uma estrutura condizente com o tamanho da população. Atualmente, aproximadamente 80% da água consumida no mundo não é tratada. (DA)
Pegada hídrica é termo ainda desconhecido
O termo “pegada hídrica” ainda não se popularizou no Brasil. Em países como a Holanda, essa ferramenta já é utilizada desde 2003. A proposta do método é apontar quanto de água é necessário para a fabricação ou cultivo de determinado bem ao longo de toda cadeia produtiva. No entanto, no Brasil ainda não existem estudos que apontem a realidade de cada região.
Hoje, Dia Mundial da Água, a “pegada hídrica” no campo é tema de uma apresentação no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, feita por Wilson Bonança, consultor para assuntos de recursos hídricos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Para ele, a metodologia no país está longe de ser colocada em prática. “Faltam estudos e testes para quantificar quanto de água é necessário para produzir determinada cultura. Existem mais de 20 metodologias para se chegar a uma média, mas é necessário testá-las”, aponta. Segundo Bonança, a CNA está buscando parcerias para aplicar a “pegada” em todo o território nacional.
Caso a técnica seja aplicada a expectativa de Albano Araújo, do The Nature Conservancy, é de que a população se conscientize de qual produto consumir. “Dessa forma, é possível a população optar pelo produto que agrediu menos o meio ambiente”, diz. (DA)
Serviço
Palestra “Pegada hídrica” no Museu Oscar Niemeyer hoje, às 8 horas. Entrada gratuita.
O consultor nacional da FAO, José Roberto Borghetti, diz acreditar ser necessário encontrar um caminho para a agropecuária utilizar a água com eficácia. “O produtor rural precisa ter maior rendimento na produtividade usando menos água possível”, afirma. Segundo ele, caso não sejam tomadas medidas emergenciais no setor, o país pode viver o que ele denomina de estresse hídrico. “O que resultaria em falta de água e má distribuição em diferentes regiões do país”, explica.
De acordo com o coordenador de Estratégia para Água Doce da organização The Nature Conservancy, Albano Araújo, a retirada excessiva e uso desordenado do líquido na agricultura culminarão em impactos nocivos ao meio ambiente. “A irrigação só deve ser usada quando não chove. Mas em períodos de seca o rio fica com menos água. Dessa forma, o rio corre o risco de sofrer com pouco volume. Quando a irrigação é feita diretamente de um lençol freático, o aquífero ou os poços artesianos podem ser afetados com baixa vazão ao longo dos anos”, explica.
Conforme aponta Samuel Barreto, coordenador do programa Água Brasil da organização não-governamental WWF, é necessário adotar mecanismos para o uso eficiente e inteligente no campo. “Devem ser criadas ferramentas que possam indicar o quanto pode usar de água e o que precisa ser recuperado. Para isso, o Estado deve interferir e ser mais protagonista neste sentido”, diz.
Wilson Bonança, consultor para assuntos de recursos hídricos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), discorda da tese de que a agricultura é a maior consumidora de água. “Isso é um mito. Na região de São Paulo, o uso no setor não chega a 30% do total. Existe desperdício de água em tudo, até na hora de tomar banho. Mas existem, por exemplo, técnicas de irrigação adequadas para cada região e cada cultura”, ressalta.
O gerente para uso sustentável da Agência Nacional de Águas (ANA), Devanir dos Santos, acredita na possibilidade de redução do desperdício nas lavouras. “Às vezes trocar a forma de irrigação ou as peças do mecanismo já ajuda a minimizar gastos desnecessários”, diz. No entanto, revela que falta a devida orientação para que os produtores se conscientizem do uso racional da água. “Não existe assistência técnica eficaz no país para que os agricultores aprendam a melhorar o sistema de irrigação e entendam o quanto de água deve ser usada em diferentes culturas”, ressalta.
Projeto orienta produtores rurais a usar melhor a água
O Paraná tem aproximadamente 10,5 milhões de habitantes e cerca de 1,7 milhão vive no meio rural. O estado responde por aproximadamente 25% da produção nacional de grãos e 8% da produção pecuária. Os números demonstram o tamanho da importância do campo na economia paranaense.
Entretanto, entre os principais problemas rurais, está justamente o manejo adequado do solo e da água. “No campo, é possível gastar muita água ou equacionar o uso se preocupando com o meio ambiente”, aponta o coordenador do Programa de Manejo do Solo e da Água da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, Erick Schaitza.
O órgão desenvolve um programa que objetiva orientar o produtor a planejar o cultivo a fim de que se encontre uma sustentabilidade ambiental. “Para isso é necessário planejar o cultivo e olhar toda a paisagem. Saber, por exemplo, onde se devem manter as florestas e preservar as margens dos rios. Tudo isso irá contribuir para o bom andamento da agricultura e o uso equilibrado de água”, explica.
Microbacias
Schaitza afirma que o governo estadual dividiu o Paraná em microbacias. “Cada microbacia atinge entre 50 a 60 produtores.
Os técnicos elaboram o planejamento de como o agricultor deve atuar para preservar o meio ambiente como um todo”, diz. De acordo com ele, todos devem trabalhar considerando a conservação de solos, água e biodiversidade. “Independentemente do que é plantado ou criado na propriedade”, salienta.
Interatividade
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fonte:gazetadopovo
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