Por Otávio Monteagudo (da Redação)
Um homem agarra um cachorro, dá uma injeção letal em seu peito e o joga em uma caixa junto com outros cães para morrer. É uma morte lenta e dolorosa, que ocorre aproximadamente 20 mil vezes por ano, no dito ‘paraíso tropical’ das Ilhas Maurício, longe das suas praias de areia branca e de um mar de azul profundo. As informações são do Daily Mail.
O governo dá como justificativa a ‘proteção aos turistas’, que somam 200 mil por ano só considerando os britânicos, e diz que é um jeito ‘humano e eficiente’ de controlar a população de cachorros em situação de rua.
Porém, essa atitude não é humana e muito menos honesta. Foi verificado que um pouco menos de 80% de todos esses cachorros têm alguma coleira, identificação e até mesmo uma ficha com o endereço de sua família caso ele se perca, o que indica que uma grande parte deles foi raptada de lares que os cuidavam e acolhiam.
Eles são mortos por uma organização governamental de nome com uma ironia que seria cômica se não fosse trágica, a Sociedade Maurícia para a Prevenção da Crueldade com Animais. Os homens, sempre com um chamativo boné vermelho na cabeça e uma rede de pesca na mão, capturam um cão assim que visto, seja dormindo em uma esquina, procurando comida em um lixo ou deitado na frente da porta de sua casa. Eles são prontamente jogados de maneira tão violenta em uma gaiola fechada e absurdamente quente na parte traseira de uma van que vários deles acabam com patas quebradas e sangramentos visíveis.
Seu destino é uma instalação que só pode ser descrita como um campo de concentração para cachorros, onde os funcionários da SMPCA andam com suas botas pesadas, batendo com uma vara de metal em animais mais rebeldes e depois os jogando em uma jaula de concreto imunda, com vários cachorros aterrorizados tremendo em seu fundo e um ou outro cão olhando para cima com jeito de curiosidade, incapaz de entender seu horrendo destino. A pior jaula é a dos filhotes, extremamente suja e feita com grades enferrujadas.
Só os animais com tutores têm alguma esperança, e mesmo assim, essa é muito pequena. Se um cidadão das Ilhas suspeitar que seu cão foi recolhido pela SMPCA, eles têm a opção de ir até as instalações locais da instituição e pagarem um resgate de 30 libras esterlinas, o que está além da capacidade de muita gente, visto que o trabalhador maurício ganha em média 60 libras esterlinas por mês. Para os que não têm tanta sorte, resta esperar três dias para receber uma injeção letal com um veneno improvisado, agonizando em uma morte brutal.
Os corpos depois são jogados em uma vala em um aterro, sendo possível ver orelhas, rabos, pelo e esqueletos em meio à terra vermelha. A SMPCA insiste em dizer que apenas cachorros de rua são recolhidos, mas isso é impossível, considerando que seus funcionários têm uma cota mínima de 100 capturas por dia.
A britânica Alicia Browne é uma testemunha do descaso do órgão, tendo seus dois cachorros ‘recolhidos’ na sua frente enquanto andava com eles na rua. Alicia está a nove meses na ilha, e adotou dois cães, Mira e Vanda, durante essa estadia.
Ela lembra que “estava com elas na praia em Dezembro, jogando bola, aproveitando o dia, quando vieram dois caras do nada e jogaram suas redes na Mira e na Vanda. Eu gritei a eles que aqueles dois cachorros eram meus, mas um deles disse que eu estava infringindo a lei por não colocar coleiras nelas e as levou, dizendo que eu teria que ir atrás delas mais tarde. Eu chorei, tentei ir atrás deles depois que os vi jogando a Mira numa van como se fosse lixo. Peguei meu carro e fui atrás deles, tive que pagar pra ter minhas duas cachorras de volta. A Mira tem uma cicatriz na perna até hoje e as duas estão profundamente traumatizadas’.
Jacqueline Woodridge, uma inglesa que reside nas Ilhas Maurício, voltou pra casa um dia e viu que seu cachorro não estava mais lá. Foi então para as instalações da SMPCA em Port Louis, o que resultou em uma busca fracassada e chocante. “O que eu vi foi horrível. Tinham tantos lindos cachorros, vários com coleiras, vários filhotes, espremidos em canis sujos cheios de fezes e urina. Eles tremiam, estavam aterrorizados, só tinha uma tigela de ração e água por câmara.”
Enquanto a população de cães de rua ainda é grande e crescente, os cães claramente não são perigosos: os vira-latas evitam contato com humanos e a raiva é uma doença erradicada na ilha. Veterinários locais e estrangeiros concorda que esterilização em massa seriam uma solução perfeitamente viável para o problema, e a atriz francesa Brigitte Bardot já fez uma oferta de pagar do próprio bolso por uma esterilização de todos os cães de rua da ilha. No entanto, o governo recusa.
A situação foi para a mídia internacional após várias denúncias de ONGs de proteção animal, e o Daily Mail enviou jornalistas para investigar e infelizmente confirmar todas elas. O jornal tentou ligar várias vezes para a SMPCA e nenhuma das ligações foi atendida ou retornada. A veterinária alemã Birgit Wellman, que também teve que resgatar o próprio cachorro, comenta que “esterilização é a melhor solução, mas ninguém parece ligar. É de partir o coração”.
Ela também diz que a situação está do jeito que está pelo medo da população de tomar alguma atitude, pois os estrangeiros podem ser deportados e os locais estão sujeitos à penas de prisão por críticas ou protestos contra o governo.
Autoridades dizem que esses cães ‘prejudicam’ a muito lucrativa indústria do turismo na ilha, mas, como um veterinário que se mudou da ilha após essas iniciativas diz, “esses cães são menos perigosos que um bronzeado”.
fonte: anda.jor
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