sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Impacto da pecuária bovina – Parte 1



INTRODUÇÃO
Atualmente temos visto nos diversos canais de comunicação a divulgação de uma crescente preocupação com as questões ambientais. A natureza tem dado a resposta aos muitos anos de exploração, devastação e poluição produzidos pelo homem que vão além dos níveis aceitáveis. As respostas a esta atitude humana foram demonstradas com o aumento do nível dos oceanos, da temperatura da Terra e com um número cada vez maior de furacões. As previsões para um futuro breve não têm sido nada otimistas. Cientistas do mundo inteiro se reúnem, como o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), a fim de estudar estes fenômenos e sua relação com as ações antrópicas.
Uma pesquisa feita pela AC Nielsen concluiu que os internautas brasileiros são os “mais preocupados” com os efeitos do aquecimento global. A pesquisa via internet foi feita em 46 países e 81% dos brasileiros consideraram o assunto “muito sério”. Já os internautas dos Estados Unidos se mostraram os menos preocupados e familiarizados com o assunto, embora o país contribua com um quarto das emissões dos gases do efeito estufa.
Quando pensamos em mudanças climáticas, efeito estufa e emissões de gases poluentes associamos a fontes causadoras como indústrias poluidoras e meio de transporte como CARROS com seus escapamentos liberando uma enorme quantidade de monóxido de carbono.
Entretanto, poucas vezes podemos associar a nossa alimentação com problemas ambientais tão graves assim. Afinal de contas, como um simples hábito de se alimentar poderia ter a ver com mudanças tão complexas na natureza? O que um prato de carne ou um churrasco causam ao meio ambiente até chegar ao consumidor final?
A FAO  (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) declarou no final de 2006 que a criação de animais é mais danosa ao meio ambiente do que os automóveis.
As emissões antrópicas de carbono geradas pelo setor pecuário são maiores do que o de transportes e isto se deve à uma crescente demanda por carne e laticínios, informa a FAO.
O consumo de água é outro fator de relevância e que tem causado grandes preocupações. A população mundial, ou pelo menos 60% dela, enfrentará problemas com a escassez de água nos próximo 20 anos. Este alerta vem de um comunicado da FAO. Atualmente mais de 1 bilhão de pessoas sofrem com a falta de água potável e em 2025 serão, segundo os cálculos da entidade, cerca de 1,8 bilhão de pessoas.
O consumo de água cresceu duas vezes mais rápido do que o aumento da população mundial no último século, sendo o setor agropecuário o maior consumidor de água doce disponível. O uso de água na produção de alimentos é da ordem de 70% do total utilizado pelo homem e em países em desenvolvimento chega a 90%.
A devastação das florestas e ocupação de terras são outras questões ambientais relevantes tratadas atualmente e que têm gerado conflitos. No Brasil a pecuária bovina foi uma das principais causas da destruição da Mata Atlântica que hoje se encontra apenas com cerca de 7% de sua formação original. Atualmente vemos a diminuição da Floresta Amazônica e a degradação do Pantanal Matogrossense intimamente ligados com o aumento da atividade pecuária no país.
Estes são alguns dos temas ambientais que serão tratados a seguir e estão relacionados diretamente ao hábito de consumir carne.
Das terras produtivas brasileiras, 75% têm a pecuária como sua atividade de renda. O Brasil desponta com números ainda mais audaciosos: 15% do total do rebanho bovino comercial do planeta encontra-se em nossas terras, a maior porcentagem de gado comercial do mundo num só país, e além disto, detém a primeira colocação na produção de carne bovina mundial. Estes dados mostram a grande importância de se conhecer todos os aspectos relacionados com esta atividade, quais são os recursos naturais que ela utiliza para sua produção e quais são as conseqüências implícitas.
USO DA ÁGUA
O relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) diz que os efeitos da produção pecuária exercem grande peso na oferta de água, pois utiliza 8% do que é consumido pelo homem, principalmente pela irrigação dos cultivos de alimentos para o gado.
Embora a Terra seja chamada de planeta azul, 97,5% da água é salgada e encontra-se nos oceanos e mares, 2,493% é doce, mas está localizada em geleiras ou regiões subterrâneas (aqüíferos) de difícil acesso e somente 0,007% é doce e está disponível em rios, lagos e na atmosfera sendo de fácil acesso para o consumo humano.
Um relatório que está sendo produzido pela CETESB informa que um frigorífico grande e completo (inclui abate, desossa, fabricação de carne cozida e subprodutos como a farinha de carne, osso e sebo)  em São Paulo, com um abate de 1.100 cabeças de gado por dia, com práticas de conservação e uso racionalizado de água chega a utilizar 4.250.000 litros de água por dia, ou seja, cerca de 3.900 litros de água por cabeça.
Se considerarmos 160 litros de água o consumo médio diário de uma pessoa em São Paulo, a totalidade gasta em um dia por este frigorífico abasteceria de água pelo mesmo período 26.562 pessoas.
Conforme pesquisa de Primavesi da EMBRAPA, a variação de consumo de água de um bovino é de 15 a 53 litros de água por animal/dia. As vacas em lactação consomem de 80 a 162 L/ animal, pois além de terem uma ingestão maior do líquido, ainda temos que contabilizar o que é utilizado para seu asseio.
Com o propósito de termos um esclarecimento maior sobre o consumo de água na pecuária, podemos comparar alguns produtos agropecuários e qual a necessidade hídrica de cada um.  Por exemplo, para a produção de 1 quilo de arroz são necessários 2.182 L/água, batata 262 L/água, tomate 60 L/água, trigo 1.500 L/água, soja 2.000 L/água e a carne 20.000 L/água (ver tabela a seguir).
         
grafico1
Fonte : Agência Nacional de Águas (ANA – MMA) e Christofidis (2001)
Podemos observar assim que a eficiência na obtenção de 1 kg de carne é muito menor quando comparamos com outros produtos agrícolas.
         
O consumo de água tanto na pecuária como na agricultura pode variar um pouco conforme a região onde a cultura é plantada, o sistema de irrigação, bem como o tipo de alimentação do gado. Entretanto esta diferença entre as culturas agrícolas e pecuárias sempre mantém aproximadamente a proporção indicada no gráfico.
Adriana da Conceição tem bacharelado e licenciatura em Ciências Biológicas e pós-graduação em Gestão Ambiental com ênfase em didática do ensino superior. Participou como diretora e secretária de ONGs ambientalistas de defesa animal e educativas. Atualmente é graduanda em engenharia civil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

verdade na expressão