Em 40 anos, o desmatamento da Amazônia atingiu 763.000 km², o equivalente a três Estados de São Paulo ou a duas Alemanhas. Desapareceram 20% da cobertura original. Um relatório do pesquisador Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revela que a destruição da maior floresta tropical do mundo pode ter um efeito devastador sobre o clima na América do Sul.
Isso ocorrerá porque a floresta exporta verdadeiros rios aéreos de vapor que levam umidade para regiões muito distantes. A floresta joga na atmosfera 20 bilhões de toneladas de água por dia, mais do que o volume despejado no Oceano Atlântico pelo rio Amazonas. A umidade é empurrada pelo vento em direção ao oeste, esbarra na Cordilheira dos Andes e segue em direção ao sul do subcontinente.
“Não fosse a língua de vapor que, no verão hemisférico, pulsa da Amazônia para longe, levando chuvas essenciais e outras influências benéficas, muito provavelmente teriam clima inóspito as regiões Sudeste e Sul do Brasil (onde hoje se encontra sua maior infraestrutura nacional) e outras áreas, como o Pantanal e o Chaco, as regiões agrícolas na Bolívia, Paraguai e Argentina”, afirma o relatório.
A seca atual em São Paulo pode já ser resultado da redução da floresta. Da mesma forma, as regiões andinas deverão ser afetadas num futuro próximo, já que o vapor gerado na Amazônia é a matéria-prima de suas geleiras, que já estão sendo reduzidas por conta do aquecimento global e podem sofrer ainda mais por falta de precipitações sobre elas.
Com o título “O Futuro Climático da Amazônia”, o trabalho de Nobre revisa mais de 200 estudos científicos sobre o tema e defende a necessidade de um “esforço de guerra” para que a destruição da floresta não atinja um ponto em que seja impossível evitar sua transformação em savana. Lembra que, além dos 20% que já foram desmatados, outros 20% da cobertura original já estariam em processo de degradação ambiental.
Esse “esforço de guerra” precisa ter como objetivo que o desmatamento seja zerado no curto prazo . Mais do que isso, é necessário e inevitável desenvolver um amplo esforço para replantar e restaurar a floresta destruída, afirma o pesquisador. Na opinião de Nobre, “as elites governantes podem, devem e precisam tomar a dianteira na orquestração da grande mobilização de pessoas, recursos e estratégias que possibilitem recuperar o tempo perdido”.
O atual governo não dá mostras de que pretende enfrentar esse desafio. Em setembro passado, a presidente Dilma Rousseff se recusou a assinar documento que propõe reduzir pela metade a derrubada das florestas do mundo até 2020 e zerar por completo o desmatamento até 2030. A “Declaração de Nova York sobre Florestas”, apresentada durante a Cúpula do Clima, foi assinada por 28 países, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).
Clique aqui e leia a íntegra do relatório de Antonio Nobre, feito para a ARA (Articulación Regional Amazônica).
O programa Fantástico (Rede Globo) abordou o tema em sua edição de 31 de agosto. Clique aqui e assista à reportagem de Marcos Losekann.
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