O olhar tímido e as poucas palavras do adolescente Ricardo Felipe de Ataídes Menezes, de 13 anos, dão lugar a um sorriso largo quando o assunto é a filhote de gato Amora. O garoto a encontrou enterrada viva debaixo de uma lixeira na praça da quadra 202 de Santa Maria, no Distrito Federal, no último dia 13. De acordo com o menino, o animal estava todo ensanguentado, sujo e com machucados no nariz. O caso não foi registrado na Polícia Civil.
“Era umas 8h. Estava indo embora com a minha avó quando comecei a ouvir miados meio baixos. Fui seguindo o som e vi que estava perto da lata de lixo. Tinha um saco embaixo da lixeira, aí eu levantei o saco e continuei ouvindo o miado. De repente, vi um rabo e a terra se mexendo. Fui tirando a terra e vi a filhote. Ela estava com medo”, lembra.
Mesmo sabendo que a mãe não queria um animal doméstio, Ricardo decidiu levar a gata para casa. No caminho, passou em uma casa agropecuária junto com a avó para pedir dicas sobre os cuidados a tomar com o animal. Lá, comprou ração para alimentá-la e antisséptico para passar nos ferimentos.
Depois dos “primeiros socorros”, o menino colocou a filhote em uma caixa e tentou contato com a mãe, que estava no trabalho. Apesar de ter ficado orgulhosa da ação do garoto, a produtora de eventos Aline Patrícia de Ataídes, de 32 anos, deixou claro que ele não poderia ficar com o animal.
“Falei para ele procurar um lugar para ela ficar, porque infelizmente a gente não tinha condição. Temos uma rotina puxada, a casa está em construção e não temos espaço. Ter um animal exige amor, responsabilidade, dedicação e tempo. Não temos condição de ficar com ela agora, até por ela mesmo, que não merece ficar presa dentro de casa”, disse a mulher.
O garoto decidiu então procurar a mãe de uma colega que mora na quadra ao lado e já cuida de outros cinco felinos. Recusando o título de “protetora de animais”, Renata Duarte se dispôs a continuar com a gatinha até ela achar um tutor. A mulher disse que não conseguiu levar a filhote ao veterinário por falta de dinheiro, mas que deu uma “olhada” e constatou que ela aparenta ter boa saúde.
“Ela é gordinha, [mas] não é uma barriguinha de vermes, por exemplo”, disse. “Os olhos estavam brilhantes, sem apresentar sintomas de conjuntivite ou rinotraqueite – doença que comumente atinge gatos filhotes e idosos e causa a morte do animal quando não diagnosticada com antecedência. Também não apresentava sintomas de anemia. [Tinha] a gengiva e a língua de cores bem rosadas.”
De acordo com Renata, a gatinha tem entre 40 e 50 dias de vida. Ela foi acolhida por uma felina adulta, que a está amamentando. Além disso, recebe misturas e soros caseiros apropriados para animais.
“Como todo filhote pequeno, ela tem medo de altura. Sempre que tenho que pegá-la em minha mão e mudá-la de local para comer a papinha – se não a mãe adotiva devora a comida toda – ela mia bastante, nada mais que isso. É brincalhona, adora brincar de pique e morder com os irmãozinhos adotivos, gosta de correr mesmo sendo tão pequena”, afirma.
Uma amiga de Renata se candidatou a adotar o animal e o batizou de Amora. A mudança está prevista para ocorrer neste final de semana. A notícia deixou Ricardo triste. Nos últimos 12 dias, o garoto já esteve na casa da vizinha para visitar a gata quatro vezes.
O garoto disse que ficou bravo com a crueldade contra a gatinha. “Mas depois me senti feliz por pelo menos ter ajudado. Eu gosto de animais doméstico, gostaria de ter um, mas quem eu queria mesmo por perto é a Amora. Ela é linda, queria ficar com ela”, contou..
Paixão por animais
O adolescente diz ainda não saber com o que pretende trabalhar no futuro, mas destaca a vontade de cuidar de animais. Amora, segundo ele, não foi o primeiro animal que ele salvou: ele protegeu uma gata prenha que apareceu com a pata quebrada na escola e outro felino que era maltratado por colegas. Ricardo também alimentava um cão abandonado que estava machucado e ficava perto do colégio.
“Eu não sei como as pessoas têm coragem de fazer essas coisas, nunca entendi. Os animais não fazem nada a ninguém”, declarou.
A mãe, Aline, afirma se emocionar com a postura do garoto. “Ele é um menino muito bom, de coração muito bom. Tem tanta mulher que vai para a mídia porque o filho fez coisa errada, e esse não é meu caso. Graças a Deus não é nada disso.”
De acordo com o Código Penal, o crime de maus-tratos contra animais tem pena entre três meses e um ano de prisão. O acusado também pode ser multado pela prática.
Fonte: G1
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