terça-feira, 25 de junho de 2013

Caso do cavalo que desmaiou de tanto trabalhar causa revolta


Exausto e desidratado, Falcão sentiu as patas fraquejarem e sucumbiu diante da réplica do 14 Bis, de Santos Dumont, em pleno Centro Histórico de Petrópolis (RJ). A cena comoveu turistas e petropolitanos no último dia 11 e turbinou uma polêmica que se arrasta há anos: afinal de contas é aceitável manter famosos os passeios de tração animal na cidade? Denúncias sobre maus-tratos aos cavalos são objeto de mais uma investigação da Promotoria Criminal de Petrópolis.
Até a tarde de domingo, 12 dias após o episódio, a única medida tomada pela prefeitura de Petrópolis foi o cancelamento da licença do charreteiro Carlos Eduardo de Freitas, de 50 anos. Falcão, o cavalo fragilizado, está sob observação num abrigo da Guarda Municipal. O destino da atividade que reúne 16 charreteiros e 55 animais na Cidade Imperial, no entanto, segue indefinido.
Cavalos serão examinados
Em nota, a prefeitura informou que começa a fazer hoje um diagnóstico clínico dos animais. O prefeito Rubens Bomtempo disse ainda defender “uma política de bem estar animal de forma séria e comprometida” e anunciou a contratação temporária de mais um veterinário para o Núcleo de Bem-Estar Animal, vinculado à Secretaria de Meio Ambiente. “Precisamos construir novamente uma política pública para os charreteiros ” afirmou Bomtempo, numa crítica à gestão anterior.
Presidente da ONG Grupo de Assistência e Proteção aos Animais e ao Meio Ambiente (Gapa-Itaipava), Carlos Eduardo Pereira defende um prazo para o encerramento da atividade. Para ele, as vitórias — como são chamadas as charretes em Petrópolis — não combinam com modernidade e são insustentáveis. ” O encerramento da atividade é a medida mais prudente. A regularização das vitórias demandaria enormes investimentos. Nem a prefeitura e nem os charreteiros têm condições de arcar com isso. As charretes são pesadas e sobrecarregam os animais. E os cavalos não têm os cuidados necessários. As ruas de paralelepípedo são outro complicador” analisa Pereira. Ainda de acordo com o presidente do Gapa, Petrópolis deveria substituir as charretes por carros elétricos: “A tração animal é uma atividade que não combina com tempos modernos e não é economicamente viável. Devemos buscar implementar veículos elétricos, algo sustentável.”
Segundo um laudo da prefeitura, Falcão, o cavalo que desencadeou a polêmica, apresentava hidratação insuficiente durante o período de trabalho. O animal foi considerado inapto para o serviço e a recomendação é a de que seja afastado. Sua saúde é estável, mas ele requer cuidados. Irmão do tutor do cavalo, Antônio Carlos de Freitas, de 45 anos, admite que Falcão havia sido adotado há sete meses e não estava acostumado a puxar charrete. Ele nega, no entanto, que o animal tenha sofrido maus-tratos: ” Nós levamos os bichos ao veterinário de três em três meses. Estava tudo bem com o Falcão. Ele havia sido liberado para fazer o trabalho. O que aconteceu foi inesperado. Ele não chegou a desmaiar.”
Maus-tratos já teriam levado animais à morte
As vitórias — homenagem à Rainha Vitória, da Inglaterra — que cortam o centro histórico petropolitano sempre foram marca da cidade. Mas a atividade, frequentemente criticada por denúncias de maus-tratos aos cavalos, está longe de ser uma unanimidade. Em 2004, a morte — causada por um infarto fulminante — de um animal que puxava charrete causou grande repercussão na cidade.
Os passeios, que partem da Rua do Imperador, têm a anuência de três órgãos municipais: Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes, Fundação de Cultura e Turismo e Secretaria de Meio Ambiente. Cada charreteiro pode transportar, no máximo, cinco passageiros, mas há relatos de superlotação.
Passeios custam até R$ 60
Em 2010, um termo de ajustamento de conduta (TAC) teve que ser firmado por conta dos descumprimentos das normas. Uma nova regulamentação, por decreto, foi publicada em novembro de 2012. A prefeitura, agora, promete colocar a atividade nos eixos. Charreteiros cobram de R$ 50 a R$ 60 por um passeio com charrete cheia. A tarifa mais cara inclui visitas ao Palácio de Cristal, à Catedral São Pedro de Alcântara e à Casa de Santos Dumont. Anderson Oliveira Granja, de 33 anos, trabalha há 18 como charreteiro, aos sábados, domingos e feriados. Ele defende a atividade: ” Nós vivemos em função dos cavalos e dependemos do bem-estar deles. Os alimentamos com feno e ração.”
Fonte: O Globo

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