quinta-feira, 12 de junho de 2014

Quais os animais mais inteligentes do planeta?


Quais os animais mais inteligentes do planeta?

Os seres humanos adoram criar listas e rankings e, no pedestal que construíram para si mesmos, não é estranho ouvi-los dizer que são as criaturas mais inteligentes do mundo. Claro que nos degraus abaixo são colocados outros mamíferos com características muito semelhantes às deles, como macacos (capazes de usar ferramentas e comunicar), cães («melhores amigos» do homem) e golfinhos (possuem linguagem própria e trabalham em grupo), por exemplo.

Mas os conceitos sobre inteligência animal evoluíram bastante, e hoje é fácil encontrar investigadores que enaltecem a capacidade ímpar de animais que nem chegam a vir à mente dos leigos quando o desafio é enumerar os mais espertos.
A actual presidente da Sociedade Brasileira de Etologia (Sbet) - ciência que estuda o comportamento animal - Elisabeth Spinelli de Oliveira, conta que os corvos planeiam acções e podem até fazer trapaças quando o objectivo é conseguir um pedaço de carne. «As aves têm sido recentemente o grande foco das atenções da neurociência», ressalta.
Além dos corvos, os papagaios, os periquitos, as cegonhas e as garças também revelam aspectos de inteligência equivalentes a dos primatas não humanos, segundo Oliveira, que também é professora do departamento de biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto. Ela lembra que, curiosamente, essas espécies são destacadas pela sua inteligência nas antigas fábulas de Esopo e La Fontaine.
Salvatore Siciliano, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e do Instituto Megafauna Marinha, da Região dos Lagos, no Rio, comenta que já viu formigas construírem uma espécie de balsa para levar o grupo até um porto seguro durante uma enchente. E cita uma lagarta da Costa Rica que, conforme descoberto recentemente, consegue disfarçar-se de cobra para se proteger de predadores.
Ambos os especialistas deixam claro que é impossível eleger uma espécie que seja a mais inteligente: «Como os elefantes encontram água no deserto? Como as baleias migram milhares de quilómetros, desde o Alasca ao Havaí, cruzando boa parte do Oceano Pacífico? Veja que não temos as respostas, ainda não somos capazes de entender profundamente como os animais pensam», opina Siciliano.
Oliveira segue a mesma linha de pensamento, e explica o causador de tantos equívocos quando o tema é inteligência animal: «Acredito que existe um grande problema quando olhamos a natureza porque temos uma compreensão equivocada da evolução, um tema de fundamental importância para a compreensão da vida. Para os leigos, evolução é sinónimo de 'melhor' ou de progresso'. No entanto, para a Biologia, evolução é 'mudança', sem qualificação de melhor ou pior».
Sim, somos péssimos conhecedores da obra de Charles Darwin, o que contribui para nossa falsa noção de superioridade. «O homem não é o ser mais evoluído. Todos os animais que partilham a vida neste momento histórico são igualmente adaptados aos seus ambientes», continua a professora. «Actualmente há um consenso de que a inteligência surgiu independentemente, várias vezes e em vários grupos de animais», completa.
«Se queremos medir a inteligência dos animais como medimos a nossa própria podemos estar a mascarar atributos que não podem ser totalmente avaliados pela nossa razão. Os animais tiveram que aprender a resolver questões de sobrevivência, sob as condições mais adversas», argumenta, ainda, Siciliano.
O pesquisador lembra que, para o homem, o porco é «porco» porque gosta de se esfregar na lama, quando na verdade a estratégia é uma forma de evitar a desidratação e proteger-se do ataque de insectos. E o burro também virou adjectivo porque pensa muito antes de tomar uma decisão, o que torna muito difícil a sua queda num buraco, por exemplo.
Fugir do egocentrismo é muito difícil, mas há alguns critérios gerais que podem ser usados pelo menos para admirar outros companheiros de sobrevivência neste planeta. Autoconsciência, habilidade de usar ferramentas e capacidade de comunicação estão entre eles e foram extensamente aplicados em testes com primatas e golfinhos. Hoje ainda têm sido levados em conta, segundo a presidente da Sbet, aspectos comportamentais como a capacidade de inovação, a aprendizagem social e a capacidade de dissimulação.
«A ideia de que o córtex, uma estrutura que predomina no encéfalo de mamíferos, é a condição fundamental para a inteligência está ultrapassada», frisa Oliveira. Essa mudança de paradigma é tão importante que chegou a ser descrita num documento, denominado «Declaração de Cambridge», assinado por um grupo internacional de cientistas em Julho de 2012. Segundo o texto, novas evidências levam a concluir que os humanos não são os únicos animais com substrato neurológico capaz de gerar autoconsciência.
Além de outros mamíferos e aves, o documento diz que até os cefalópodes (polvos e lulas) agora entraram para a lista de seres vivos com capacidade cognitiva. Lembra-se do polvo Paulo, que ganhou fama de vidente no Mundial de 2010? Pois é. Se acha que é muito superior a ele em inteligência, está na hora de rever os seus conceitos.
fonte:http://diariodigital.sapo.pt/

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