segunda-feira, 5 de maio de 2014

Proposta para abate e comercialização da carne de jumentos gera polêmica Mais uma vez tratados como objetos.

Fabio Chaves
Do Vista-se
Explorados de variadas formas, desde tempos remotos, os jumentos tornaram-se um símbolo do nordeste brasileiro por serem animais fortes, utilizados principalmente para tração e carga. Com a modernização do trabalho no campo, agora realizado com motos e tratores, os jumentos foram esquecidos ao longo dos anos por aqueles que veneravam sua existência.
Leia também, na coluna de Fabio Chaves (Vista-se) no portal de notícias da Rede Record:
Comer carne de animais abandonados não resolve o problema do abandono
O abandono destes animais é crescente na região nordeste do Brasil e há alguns meses a situação gerou uma polêmica nacional no estado do Rio Grande do Norte. Com milhares de jumentos abandonados nas estradas do estado, o poder público faz a captura destes animais com o auxílio das polícias Federal, Estadual e Rodoviária. O problema é que não há onde abrigar tantos animais. Um fazendeiro local cedeu parte de sua propriedade e se propôs a cuidar dos animais capturados pela polícia, mas a situação perdeu o controle e hoje ele já cuida de cerca de 500 animais e tem um gasto mensal de mais de R$ 30.000,00, sem o apoio de ninguém.
Diante do problema, o promotor do Ministério Público do município de Apodi, Silvio Brito, ofereceu uma solução polêmica: matar os animais e comer a carne deles. Brito sugere que a carne dos animais abandonados possa servir para alimentar os detentos da região. Para mostrar que sua tese faz sentido, o promotor realizou um bizarro banquete de carne de jumento para autoridades, em março deste ano. Dois jumentos foram abatidos no Matadouro Municipal de Apodi e mais de 100 quilos de carne provenientes deles foram servidas às autoridades e convidados de Brito.
Segundo a lei brasileira, o abate dos jumentos, que são da família dos cavalos, só poderia ser feita em um matadouro credenciado com o Sife – Serviço de Inspeção Federal. Nenhum matadouro do estado do Rio Grande do Norte tem tal credenciamento. O abate dos dois animais abandonados servidos em Apodi foi autorizado pela Defesa Sanitária do Estado, segundo divulgado na mídia, mas fere a legislação federal. O secretário estadual de Agricultura, Tarcísio Dantas, esteve no evento organizado por Brito e elogiou o gosto dos animais e a ideia do promotor.
Um vídeo amador que circula nas redes sociais mostra o abate de um jumento a marretadas dentro de um lugar que lembra as instalações do Matadouro Municipal de Apodi. Segundo informações não oficiais, o vídeo é mesmo de um dos animais mortos para o banquete promovido por Silvio Brito (assista aqui – contém cenas fortes).
Apodi tem cerca de 40 mil habitantes e tem entre seus principais problemas a situação do matadouro, documentada em uma série de fotos publicadas por um morador da cidade (veja aqui). Embora seja um matadouro municipal, ou seja, gerenciado pela prefeitura, o local tem problemas dignos de lugares clandestinos, como a falta de credenciamento federal e o abate de animais sem nenhuma condição de higiene.
Meses depois das fotos divulgadas pelo morador revoltado com as condições precárias do matadouro, o prefeito de Apodi, Flaviano Monteiro, esteve no local entregando botas e capacetes aos funcionários. A entrega destes itens básicos aos empregados foi noticiada no site da prefeitura (veja aqui), mesmo o abatedouro estando até hoje irregular.
Por lei, o Estado é responsável pela tutela dos animais e deveria ser responsabilizado também neste caso. Matar os jumentos e consumir sua carne não deveria ser uma possibilidade ou assunto a ser discutido. O Estado deveria promover a castração destes animais e ser obrigado a manter um santuário para eles.
Um abaixo-assinado (assine aqui) iniciado pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) já conta com quase 40 mil apoiadores. A SVB afirma ter agendado uma reunião com o Procurador Geral de Justiça Dr. Rinaldo Reis para o dia 16 de maio de 2014. Na ocasião, serão entregues as assinaturas colhidas para que a justiça local tenha ciência da repulsa que o assunto está causando nacionalmente.
A ONG paulistana VEDDAS pronunciou-se a respeito deste caso através de seu braço em Natal-RN. O ativista local Tiago Soares publicou um vídeo (assista aqui) onde expressa seu descontentamento com a situação: “A tentativa de inserir as carnes dos jumentos como alternativa alimentar é um retrocesso porque amplia o leque de animais que já sofrem com essa espécie de cegueira ética, provocada pelo respaldo social e cultural.” – disse. Além de gravar o vídeo, os ativistas do VEDDAS estão se articulando para tentar ajudar na resolução deste caso.
Durante uma matéria exibida pelo programa Globo Rural na manhã deste domingo (4), é possível ter uma noção mais ampla da complexidade do problema (assista aqui). Na reportagem estão documentadas várias cenas tristes, mas uma é ainda mais tocante: um filhotinho de jumento encontrado em uma rodovia não resistiu à viagem de caminhão até a fazenda onde os animais estão temporariamente abrigados e acabou morrendo.
O problema é complexo e merece atenção de todas as pessoas que se importam com os animais. Não há uma solução simples para este caso, mas deveríamos ser capazes de lidar de uma forma mais civilizada com os problemas que nós mesmos causamos.






fonte:vista-se

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