quinta-feira, 24 de julho de 2014

A profundidade emocional de uma vaca


Quem imaginaria que debaixo daquela aparência calma há um fervor de emoções? Eu não estou falando dos campeões de tênis, mas de vacas. Sim, vacas; aquelas criaturas que nós comemos, e das quais tomamos leite, mas que raramente nos importamos com isso. De acordo com uma nova pesquisa feita por cientistas da Universidade de Northampton, as vacas têm “melhores amigas” e ficam estressadas quando se separam.
Foto: David Moir / Reuters
A constatação de que as vacas têm melhores amigas não é nenhuma surpresa para aqueles que convivem com elas – assim como as suasmudanças de humor.
Em seu livro The Cow (sem tradução para o português), o ex-açougueiro e poeta Bata Sterchi cunhou um adjetivo para descrever a tranquilidade das vacas – “vacapacificidade” (cowpeaceably). É a descrição de quando as vacas estão deitadas em um campo comendo grama, olhando fixamente para o espaço e totalmente em paz. Este estado de calma totalfaz com que a vaca pareça ser “de outro mundo”. Este é, talvez, um dos motivos pelo qual acreditamos que não há nada demais acontecendo entre as orelhas de uma vaca.
Mas nós, amantes das vacas, sempre soubemos que elas têm profundidade emocional. D. H. Lawrence escreveu brilhantemente sobre o seu relacionamento com Susan, uma vaca preta que ele tirava leite todos os dias, durante um ano, em seu rebanho em Taos, Novo México. Ele relata sobre o “repouso”, “descanso”, “passividade” e “paz” das vacas, e ele se pergunta para onde ela ia durante os seus transes. Mas Lawrence acreditava, com razão, que há sempre “um certo caos intocado na vaca”, que nunca vai embora. Depois de alguns dias, ele escreveu que ela era “rebelde, cansativa e irritante”. Isso porque Susan fazia coisas para irritá-lo, como balançar o rabo na sua cara durante a ordenha: “Então, às vezes ela balança o seu rabo, de propósito. E ela olha para mim com aquele olhar negro, quando eu grito com ela.”
Quem trabalha, ou já trabalhou, com vacas, sabe que não é surpreendente que elas são capazes de criar amizades. Dentro de qualquer rebanho, há uma hierarquia criada pelas próprias vacas, onde a posição na fila de cada vaca é mantida. Na fazenda que trabalhei, como estudante agrícola, tivemos a “Diabólica Dalila”, “Caroline Esperta” e “Mary-Rose Dor no Traseiro” – elas foram apelidadas por conta das suas travessuras irritantes ou agressivas durante a ordenha ou alimentação. As vacas dominantes ficam na frente do rebanho e intimidam as demais, e elas determinam para onde o grupo irá se mover no pasto. As vacas submissas não queriam tê-las como “melhores amigas”.
Certas vacas serão sempre as líderes do rebanho quando algum problema ocorre. E se você ameaçar uma mãe protetora do seu filhote, ela vai partir para cima de você sem receio.
Mas também existem vacas mais tranquilas, que adoram um carinho, e aquelas descritas como “curiosamente medrosas”. Essas vacas são curiosas com qualquer coisa nova, mas também são medrosas ao mesmo tempo. As mais corajosas dão uma investigada, mas elas permitem que suas línguas sejam botadas pra fora e seus pescoços se aproximem. Elas vão cheirar, cheirar… e tentar lamber a novidade, até que elas decidam, depois de cerca de 15 minutos, que estão entediadas e vão passear. Há muita coisa acontecendo entre aquelas orelhas peludas.
Hannah Velten é uma escritora que trabalhou extensivamente com bois e com vacas leiteiras.
Fonte: The Guardian
fonte:http://oholocaustoanimal.wordpress.com/2014/03/17/a-profundidade-emocional-de-uma-vaca/#

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