segunda-feira, 3 de junho de 2013

Vereadora de Salvador (BA) quer acabar com os fogos de alto impacto durante festa de São João


Em menos de um mês, começam os festejos juninos e junto com eles um grande tormento: o forte barulho das bombas. Quem mais sofre com os estrondos são idosos, pacientes de hospitais, mulheres grávidas, crianças e animais, sem contar os mutilados e queimados pelos fogos.
Para amenizar esses impactos, a vereadora Ana Rita Tavares (PV) apresentou na Câmara de Salvador o Projeto de Lei nº 414/13 que visa proibir, ao menos, os fogos de alto impacto sonoro, permitindo o uso daqueles que privilegiam apenas os efeitos visuais.
Ana Rita explica que os explosivos, além de causarem poluição, produzem ruídos que ultrapassam os 125 decibéis, valor maior que o dobro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para não causar prejuízos ao ser humano. Ela cita também levantamento do Ministério da Saúde, feito entre 2007 e 2010, que relata mais de mil pessoas internadas, vítimas do uso desses materiais, sendo o maior número registrado na Bahia.
Cãozinho Marley atingido por uma bomba em Milagres. (Foto: Juliana Santana)
Cãozinho Marley atingido por uma bomba em Milagres. (Foto: Juliana Santana)
Outro aspecto negativo é a fabricação clandestina, que provoca acidentes constantes com as pessoas que produzem as bombas. Além disso, existe a exploração da mão de obra barata de adultos, crianças e adolescentes, muito comum em regiões pobres. “Essa problemática ficou evidente no último dia 16, quando um prédio, localizado em Periperi, explodiu por causa da pólvora e dos bambus usados na fabricação de espadas”, denuncia a vereadora. No acidente, uma pessoa morreu e três ficaram feridas, entre elas duas meninas de 2 e 12 anos.
Ana Rita Tavares também cita o caso recente de um cão, vítima de uma bomba na cidade de Milagres, interior baiano. O animal foi atraído pelo artefato e, ao pegá-lo com a boca, teve o maxilar dilacerado pela explosão. “Estamos em busca de doações para ajudarmos a família de Marley a pagar os custos com as cirurgias pelas quais ele está passando no Hospital Veterinário da UFBA. A bomba foi atirada por uma criança, expondo mais uma mazela que cerca a problemática dos fogos explosivos”, critica.
A vereadora reconhece que os fogos fazem parte de uma tradição no nordeste do País. Por isso, diz que não tem a intenção de proibir tudo. “Nossa proposta é combater as bombas com alto potencial explosivo e sonoro. Não precisamos delas para celebrar uma festa, pois são extremamente prejudiciais à saúde”, explica. Para Ana Rita, é possível manter a tradição sem a necessidade dos fortes estrondos. “Os fogos que têm apenas efeitos visuais representam muito mais o entretenimento do que as bombas. Estas têm o único objetivo de fazer barulho, atrapalham o sossego da cidade e ainda mutilam as próprias pessoas que as utilizam”, argumenta.
Antes de divulgar o projeto para a imprensa, a vereadora testou a repercussão da proposta nas redes sociais. “A aceitação nos surpreendeu. Em menos de 24 horas, quase 9 mil pessoas já visualizaram nossa publicação sobre o projeto, graças àqueles que aprovaram e replicaram a ideia em suas páginas pessoas”, afirma a vereadora.
Entre os internautas que apoiam o projeto, Sandrines Loch diz que as bombas representam um sofrimento para todos, “humanos, animais e aves desesperadas. Apoio esta lei com certeza, petição, abaixo-assinado tudo que vier, fogos só com datas e baixa sonoridade!”. Eveline Tavares Lira concorda com a proposta. “Uma de minhas cachorras tem tanto medo do barulho dos fogos que passa o dia todo embaixo da cama de meu filho, não quer saber de comer e beber e treme muito, muito. Ela tem como se esconder, mas e os pobres animais que vivem nas ruas?”, questiona.
Números
No Brasil, de 2008 a abril de 2011, mais de 1300 pessoas foram internadas para tratar queimaduras por acidentes com fogos de artifício, sendo 296 delas apenas no estado da Bahia, como divulgado pelo Sistema de Informações Hospitalares do SUS. E segundo registros do Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM) para o período de 1996 a 2009, o percentual de óbitos de crianças entre 0 e 14 anos foi de 23%.
De acordo com estudos da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), mais de 80% das vítimas nas emergências dos hospitais, nas festas juninas, são crianças. O uso dos fogos pode provocar queimaduras (70% dos casos), lesões com lacerações e cortes (20%), amputações dos membros superiores (10%), lesões coronárias ou perda da visão, lesões do pavilhão auditivo ou perda da audição. As pessoas mais atingidas são homens com idade entre 15 e 50 anos e crianças de 4 a 14 anos.
O Hospital Geral do Estado (HGE) registrou 103 atendimentos de pacientes vítimas de queimaduras e explosão de bomba entre os dias 22 de junho e a manhã do dia 27 de junho de 2011. Desse total, 41 atendimentos foram decorrentes de queimaduras em geral, sendo 14 relacionados diretamente com os festejos juninos. No caso de explosão de bomba, foram 62 atendimentos.
Animais
Uma matéria veiculada aqui, no site da ANDA, mostrou que os festejos do Natal, Ano Novo, Copa do Mundo, finais de campeonatos de futebol são ocasiões em que mais animais se perdem de seus guardiões. Eles se assustam facilmente com o barulho dos fogos e rojões. O pânico os desorienta, tendendo a correrem desesperados e sem destino. Muitos podem sofrer paradas cardiorrespiratórias, convulsões e ter diversos problemas que podem os levar à morte.
Os perigos e principais consequências dos fogos para os animais são:
– Fugas: Perdidos eles podem ser atropelados ou mesmo provocar acidentes
– Mortes: Enforcando-se na própria coleira quando não conseguem rompê-la para fugir, ou mesmo ao tentarem passar por vãos pequenos, atirando-se de janelas, atravessando portas de vidro, batendo a cabeça contra paredes ou grades
– Ferimentos: Quando atingido ou quando abocanham rojão achando que é algum objeto para brincar
– Traumas Emocionais: Resultando nas mudanças de temperamento para agressividade
– Ataques contra os próprios tutores e outras pessoas
– Brigas com outros animais inclusive com os quais convivem
– Mutilações, no desespero de fugir atravessando grades e portões
– Convulsões (ataques epileptiformes)
– Morte e alteração do ciclo reprodutor dos animais da fauna silvestre
– Afogamento em piscinas
– Quedas de andares e alturas superiores
– Aprisionamento indesejado em lugares de difícil acesso na tentativa de se protegerem
– Paradas cardiorrespiratórias

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