Desde janeiro, zoológico em SP acolheu 388 animais vítimas de violência.
Bichos recebem tratamento especial e carinho no processo de reabilitação.
A beleza das cores da fêmea de carcará Ana não foi suficiente para evitar que alguém decidisse lhe acertar um tiro. Mas por aquilo que muitos chamam de sorte, sua vida não terminou ali. A ave é um dos 388 animais em estado de abandono ou maus-tratos que o Bosque Municipal de Ribeirão Preto (SP) calcula ter recebido somente este ano. São exemplares de diferentes espécies que, pela intervenção do homem, acabaram sendo expostos a situações de violência ou de afastamento precoce da mãe.
Pelas contas da administração do zoológico, aves como Ana fazem parte de um grupo de 366 acolhidos desde janeiro que, de alguma forma, estiveram feridos e ameaçados. “São atos de crueldade da ação humana que tenta caçar a espécie por qualquer motivo mais fútil que você imagine. Não haveria necessidade disso. Essas aves [carcarás] se alimentam de roedores na natureza, não fazem mal algum ao ser humano”, explica o diretor do bosque, Alexandre Gouvea.
Outros 22 bichos, como um logo-guará, de três meses de idade, que chegou na terça-feira (29) ao local, são casos de filhotes considerados órfãos, desgarrados da mãe precocemente. “São órfãos pela grande probabilidade de atropelamento em malhas viárias, às vezes fogo em matas que coincide com a reprodução da espécie. Assim esses animais acabam se desgarrando dos pais e sendo encontrados por munícipes e em seguida trazidos pelo Corpo de Bombeiros ou pela Polícia Ambiental”, afirma Gouvea.
Antes de serem realocados em unidades de conservação ambiental, dentro do bosque de Ribeirão os animais são submetidos a um processo de reabilitação que, segundo Gouvea, depende não só de exercícios e alimentação, mas também de afeto por parte dos funcionários. “Os técnicos meio que precisam fazer o papel de pais. Amamentam, pegam no colo, preparam mamadeira. Com isso eles vão perdendo aquele extinto de vida livre. Então a grande chance na fase adulta é de que eles permaneçam dentro de alguma instituição ou mesmo no zoológico a que foram destinados.”
Tati e Thor, de seis e de sete meses, são filhotes de tamanduá-bandeira e foram encontrados em Minas Gerais ao lado das mães que estavam mortas. Hoje, eles dependem dos cuidados do zoológico para sobreviver. “Geralmente, os filhotes de tamanduá-bandeira são encontrados ao lado do cadáver da mãe na beirada da estrada. Eles só se sentem seguros com a mãe. Então, quando a mãe para, ele não tem para onde ir, ele fica muito desesperado, e fica ali tentando mamar. É uma verdadeira tragédia”, diz a bióloga Marisa dos Santos.
Agora saudável, a carcará Ana ajuda a equipe do zoológico na educação ambiental dos visitantes. “Ela é muito linda e pode mostrar o comportamento dela aos visitantes das escolas. Assim, os educa para que não joguem pedras. As aves chegam aqui com as asas quebradas por pedradas ou por tiros”, diz a monitora Viviane Ferraz dos Santos.
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