quinta-feira, 24 de julho de 2014

Palestrante defende alternativas ao uso de animais em pesquisas

Pesquisador do Inmetro reconhece que país precisa avançar na área.
Palestra ocorreu durante 66ª Reunião Anual do SBPC.

Veriana RibeiroDo G1 AC
Professor José Mauro Granjero realizou palestra  (Foto: Veriana Ribeiro/G1)Professor José Mauro Granjeiro realizou palestra (Foto: Veriana Ribeiro/G1)
O uso de animais em pesquisas científicas é um assunto controverso. Há quem seja contra e há quem defenda a prática. O tema polêmico foi discutido nesta quinta-feira (24), durante 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Rio Branco. Palestrante no evento, o professor doutor e pesquisador José Mauro Granjeiro, do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), defendeu o uso de métodos alternativos à utilização de animais, quando houver possibilidade de substituição, mas reconhece que o país precisa avançar nessa área.
Granjeiro explicou que, diferente da pesquisa cientifica, a área do ensino ainda não tem uma referência para a validação de métodos alternativos ao teste no uso de animais. "Temos um competência fantástica na área de educação que pode estabelecer estratégias e ferramentas para avaliar métodos de ensino, e por que não métodos alternativos? É um grande desafio que o nosso país tem e temos competência para desenvolver isso", afirma.
Para o pesquisador, apesar de o Brasil ter competência para realizar ensaios alternativos que reduzam ou substituam o uso de animais, existem poucos laboratórios reconhecidos pelas Boas Práticas Laboratoriais (BPL), um sistema de gestão da qualidade e uma documentação adequada de todos os procedimentos realizados.
"Ele dá mais confiança a quem analisa os resultados, que foi feito adequadamente. Quando a gente analisa o número de laboratórios reconhecidos em BPL no Brasil, verificamos que são poucos, apenas 33. Desses, apenas cinco ou seis fazem, por exemplos ensaios toxicológicos, e a maioria faz ensaios utilizando animais. Em outras palavras, nós temos pouquíssimos laboratórios reconhecidos em BPL que já façam ensaios alternativos", diz.
Ele ressalta que o uso de métodos alternativos é utilizado em casos específicos. Cada tipo de pesquisa tem uma forma diferenciada ao uso de animais e a possibilidade, ou não, da existência de um método alternativo.
"Algumas perguntas são muito claras, como por exemplo, o material produz irritação ocular? Então, existe um método que responda essa pergunta sem precisar de animal. Agora quando a gente pergunta se determinado composto químico pode promover efeito negativo no sistema reprodutivo do animal ou ser humano, não temos métodos alternativos para ver o sistema reprodutivo ser afetado", exemplifica o professor.
Ele explica que a definição do uso de animais, seja para fins científicos ou didáticos, é definido pelo Comitê de Ética de Uso de Animais (Ceua) que existe em cada instituição que necessite realizar testes. "É o comitê que recebe o protocolo, enviado pelo pesquisador, analisa, discute, pede alguma modificação e no final rejeita ou aprova, de acordo com as diretrizes das regulamentações que o Concea [Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal] vem estabelecendo e que a lei determina", dz. 
Vários estudantes e pesquisadores compareceram na palestra (Foto: Veriana Ribeiro/G1)Vários estudantes e pesquisadores compareceram na palestra (Foto: Veriana Ribeiro/G1)

Granjeiro afirma que uma resolução que proíba imediatamente o uso de animais em favor do método alternativo é inviável, por isso, o conselho aprovou uma resolução que prevê até cinco anos para que o método alternativo validado seja implementado. "A gente corre o risco de colocar o país em uma situação de impasse, porque não tem laboratório pronto agora para mudar toda uma tecnologia para outra, elas são muito distintas. Por isso a resolução 17/2004 prevê até cinco anos e só a partir disso, se proibiria o uso de animal para aquele tipo de ensaio a qual se refere o método alternativo aprovado", afirma.
A estudante de veterinária Raissa Moraes participou da palestra e sabe da necessidade do uso de animais para fins didáticos. Ela percebeu que a questão do uso de animais 'vai muito além do que pensava'. "A palestra é bastante rica em informações,  mostrando que essa questão de uso de animais, vai muito além do que pensamos e não é tão simples assim. Como foi mostrado na palestra, substituir esse uso envolve muitas questões que nós, estudantes, talvez não imaginávamos", diz.
fonte:g1.globo.com/

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